Pesquisador da UFSC desenvolve protótipo de embalagem para proteger maçãs contra bolor azul
06/04/2020
Um pesquisador da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) criou um protótipo de embalagem com óleos essenciais que pode ajudar a controlar a contaminação de maçãs durante armazenagem e comercialização pelo bolor azul. A doença é provocada pelo fungo Penicilliumexpansum, que apodrece a fruta após a colheita. O estado é o maior produtor nacional da fruta.
As perdas de maçãs por apodrecimento durante o transporte e a exposição nos mercados e domicílios dos consumidores podem chegar a 20%. As doenças bolor azul e podridão-olho-de-boi são duas das principais causas. A Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI) atualmente aplica diferentes estratégias para diminuir o problema.
A pesquisa da embalagem, que recebeu menção honrosa no Prêmio Capes de Tese de 2019, é do engenheiro agrônomo Argus Cezar da Rocha Neto, 33 anos, e foi feita durante o doutorado dele em biotecnologia e biociências pela UFSC. O protótipo demorou três anos para ser desenvolvido.
Atualmente professor no Centro Universitário Adventista de São Paulo (UNASP), Rocha Neto disse em entrevista que pesquisa maçãs desde que começou a iniciação científica e que o protótipo foi criado considerando investigação anterior feita por ele sobre a necessidade de novas tecnologias associadas à manutenção do fruto após a colheita.
“(Isso) Principalmente por causa da insuficiência de armazenamento a frio ou em atmosfera controlada existentes no estado. Resolvi prototipar algo que envolvesse todos esses aspectos. Ou seja, utilizar óleos essenciais, princípios ativos ‘naturais’, para controlar o bolor azul em frutos de maçã e, assim, expandir o tempo de prateleira delas sem a necessidade de câmaras frias ou de atmosfera controlada”, declarou.
Na atmosfera controlada, são monitoradas em câmaras de armazenamento as concentrações de oxigênio e gás carbônico. Já os óleos essenciais são compostos extraídos das plantas, podendo ser usados de diferentes formas contra diversos tipos de fungos.
A pesquisa começou e foi finalizada na UFSC, mas uma parte do trabalho foi desenvolvida na Michigan State University, nos Estados Unidos. O trabalho indicou que os óleos de palmarosa, árvore-chá e anis-estrelado apresentaram os melhores resultados contra a doença.
“Eles atuam diretamente na membrana plasmática do fungo que provoca o bolor azul, causando a quebra da mesma e, assim, causando o extravasamento do conteúdo intracelular para o meio extracelular. Assim, o fungo acaba morrendo”, explicou o pesquisador.
Questionado se chegou a ser procurado por alguma empresa ou instituição interessada na descoberta, ele disse que houve conversas nesse sentido, “mas não com empresas em Santa Catarina, apesar do alto volume de maçãs”, e frisou que ainda é preciso continuar pesquisando.
“Ao final do projeto, o que fiz foi um protótipo, e não um produto acabado. Nesse sentido, novas investigações precisam ser realizadas para afinar a pesquisa e, desta forma, concluir um produto de fato”, explicou.
Produção em SC e cuidados pós-colheita
Santa Catarina é responsável por 53% do total de maçãs produzidas no Brasil, com 2.992 produtores, e um dos desafios neste ano é aumentar as vendas para o exterior. A colheita da fruta no estado, iniciada no mês de março, deve ser menor que a do ano passado. As principais espécies estaduais são a gala e a fuji.
Um estudo conduzido por Luiz Argenta, Doutor em fisiologia vegetal e pesquisador da EPAGRI, com demais pesquisadores apontou uma média de perda de 20% da produção depois da colheita, ou seja, nos períodos de armazenamento e de prateleira. O levantamento foi feito entre 2007 e 2010, com as espécies fuji e gala.
Ao G1, Argenta disse que a EPAGRI usa diferentes métodos desde a década de 1990 para baixar as perdas sem uso de agroquímicos. Entre eles, estão técnicas para retardar o envelhecimento da maçã, melhorias no armazenamento, colheita no estágio de maturação apropriado e, a longo prazo, pesquisar variedades mais resistentes.
Entretanto, o pesquisador pondera que, apesar do avanço das tecnologias de refrigeração e atmosfera controlada, com concentrações reduzidas de oxigênio e elevado gás carbônico, elas não têm sido suficientes.
“As perdas por podridões continuam altas porque a produção de maçãs aumentou bastante nos últimos 30 anos. Por isso, mais maçãs têm sido armazenadas por períodos mais prolongados. Quanto maior o tempo de armazenagem, maior o risco de perdas da produção por podridões”, explicou.
No Brasil, diferentemente de outros países produtores dessa fruta, não há atualmente nenhum fungicida registrado e usado comercialmente, informou Argenta. E que a EPAGRI vê com bons olhos iniciativas que tenham como objetivo diminuir os prejuízos sem o uso de fungicidas. “Isso por dois motivos: porque as perdas são grandes e porque buscamos técnicas seguras do ponto de vista alimentar, sem impactos na saúde”, explicou.
(Fonte: G1 / A Semana, 12 de março de 2020)