Novos horizontes para a indústria de embalagens
26/10/2020
O ano de 2020 ficará marcado como aquele em que muita coisa mudou, desde hábitos gerais da população até modelos de negócios. Transformações e processos que ainda tomavam forma de algum modo foram acelerados a partir do início da pandemia do novo coronavírus, passando por medidas de distanciamento social ao redesenho de planos e estratégias corporativas. Na indústria de embalagens, mudanças fundamentais já podem ser percebidas – principalmente para fabricantes que fornecem soluções de envase para o setor de alimentos e bebidas.
Com as orientações para restringir deslocamentos e fechar temporariamente estabelecimentos comerciais, canais de e-commerce experimentaram forte crescimento nos últimos meses. Segundo pesquisa da Neotrust/Compre&Confie, as compras online cresceram 104% em faturamento no segundo trimestre de 2020, em comparação com o mesmo período do ano passado. Com crescimento de 241%, a categoria de alimentos e bebidas foi a que registrou maior expansão.
Sob a perspectiva da indústria de embalagens, o avanço do comércio de alimentos e bebidas em plataformas digitais abre um novo leque de oportunidades para o setor. Com mais pessoas experimentando o supermercado online, surgem novos desafios no que diz respeito à cadeia de distribuição dos produtos. Por contar com mais pontos de atrito, a logística no e-commerce tende a ser maior e mais agressiva.
Tendo em mente que a embalagem é o primeiro ponto de contato da marca com o consumidor, o aspecto da embalagem torna-se fundamental para a experiência de consumo. A entrega de um produto em uma embalagem amassada ou violada pode ser decisiva para que o consumidor nunca mais repita aquela experiência. Afinal, a embalagem é o que garante a proteção do alimento e o que dá ao consumidor a segurança de que o produto em seu interior está preservado. Trabalhar com embalagens que equacionem robustez, segurança e leveza são alguns dos aspectos que ganham maior importância por causa do crescimento das plataformas de e-commerce.
Contudo, o avanço do supermercado online não significa o fim das lojas físicas. Pelo contrário, por causa das medidas de distanciamento social as lojas de bairro também estão experimentando forte crescimento durante a pandemia. Segundo a Kantar, 75% dos brasileiros têm preferido realizar compras em supermercados próximos às suas casas, o que se traduz em algumas oportunidades para a indústria de embalagens.
Ao mesmo tempo em que o consumidor tem dado preferência a compra em mercados de bairro, ele segue evitando exposições ao vírus causador da Covid-19. Por causa disso, muitas famílias têm optado por reduzir o número de idas ao mercado, fazendo com que elas realizem compras maiores e que durem mais tempo. Isso significa que embalagens que protejam o alimento por um período maior acabam ganhando a preferência do consumidor, já que além da proteção ao produto elas fornecem um novo tipo de praticidade no contexto atual: evitar saídas ou exposições constantes.
No paralelo, com o consumidor buscando cada vez mais informações sobre os produtos em suas mãos, a própria embalagem pode servir como canal de comunicação para as marcas. Códigos únicos de identificação impressos nas embalagens podem ser escaneados por câmeras de celular, fornecendo mais informações sobre o produto, como origem dos ingredientes utilizados ou promovendo novos modelos de interação com o consumidor.
Além disso, a conectividade da embalagem adiciona uma camada a mais de segurança e inteligência para a indústria. A partir do escaneamento dos códigos de identificação, torna-se possível rastrear o produto ao longo de todo o seu ciclo de vida. Por exemplo, fabricantes de alimentos e bebidas podem acompanhar a posição do produto dentro da cadeia de distribuição, compreender com mais rapidez onde está havendo oscilações no estoque e acompanhar o desempenho do produto nas prateleiras. No caso de ações de recall, a retirada do produto do mercado também é mais rápida, já que a identificação de lotes específicos passa a acontecer em questão de poucas horas.
Se times de marketing e vendas compreendem a importância dos dados para a formulação ou adaptação de estratégias, as embalagens conectadas servem como uma ferramenta importante para monitorar o desempenho dos produtos no varejo e para avaliar novas estratégias de distribuição.
Por fim, cabe ponderar que as mudanças impostas pela Covid-19 não representam o abandono de aspectos valorizados na composição das embalagens até antes do início da pandemia. Por exemplo, a preocupação com a sustentabilidade continuará sendo um vetor importante no processo de escolha do consumidor. O entendimento de que a embalagem em suas mãos é reciclável e composta por materiais obtidos a partir de fontes renováveis continuará sendo um diferencial de compra, com a mudança de que, a partir de agora, esse aspecto se somará a tantos outros trazidos em função da pandemia.
Ainda sob o enfoque da sustentabilidade, um aspecto reforçado pela atual crise sanitária é que o consumidor está cada vez mais sensível às necessidades de outras pessoas e dando maior importância para o consumo consciente – aquele que gere benefícios ambientais ou socioeconômicos para populações em situação de vulnerabilidade. Ciente da importância da reciclagem para o planeta e para milhares de pessoas que dependem dessa atividade, a reciclabilidade da embalagem passa a ter maior peso no processo de escolha do consumidor.
De modo geral, todas as transformações notadas na indústria de embalagens já começavam a tomar forma nos últimos anos. Não necessariamente falamos de grandes mudanças no horizonte, mas de transformações que foram aceleradas por causa da pandemia e que exigirão algum nível de adaptação por parte de fabricantes de soluções de envase e produtores de alimentos e bebidas. Se hábitos de consumo foram remodelados nos últimos meses, então isso significa que também devem ser contemplados na indústria de embalagens.
Texto de Cássio Simões, Diretor de Vendas da Tetra Pak Brasil.
(Fonte: JeffreyGroup Brasil, 28 de setembro de 2020)