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Por trás de uma menção na embalagem, o que carrega um produto na gôndola com selo de certificação?


Com um movimento cada vez mais crescente na “fome” dos consumidores por informação dos produtos que são colocados à mesa, alguns detalhes inseridos na apresentação do alimento na gôndola passam de coadjuvantes a protagonistas. Um exemplo crescente desse fenômeno de comportamento são os selos e certificações de qualidade.

De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Alimentos e Territórios), diversos selos de qualidade são utilizados para evidenciar singularidades e atributos (tangíveis e intangíveis). Essa classificação varia desde especificidade produtiva, como glúten free, produtos orgânicos e veganos; como também pode indicar níveis qualitativos, pontuando questões de transparência, equidade, normas de conformidade, responsabilidade social e ambiental, dentre outros valores que vão ganhando cada vez mais especificidade, como é o caso do bem-estar animal.

Para ter ideia desse cenário, de acordo com uma pesquisa realizada pela World Animal Protection – uma organização não governamental e sem fins lucrativos que se mobiliza para a proteção animal – 91% dos brasileiros acreditam que animais produzidos com bem-estar originam produtos de maior qualidade. E, quando questionados sobre a intenção de comprar produtos com selo de produção de bem-estar animal quando o preço é o mesmo, contabiliza-se 70% das respostas positivas. Esse é reflexo de um pensamento que vem se expandindo de forma global. Segundo uma pesquisa conduzida pela Technomic and the American Society for the Prevention of Cruelty to Animals (ASPCA), órgão Norte Americano de prevenção à crueldade contra animais de produção, 67% das pessoas afirmaram estar disposta inclusive a pagar mais por alimentos que tragam um selo de bem-estar animal em seus rótulos. Outra, realizada em cinco países da Europa – Itália, Inglaterra, Espanha, Alemanha e França – também mostra que os consumidores estão dispostos a pagar mais por produtos provenientes de animais criados em condições de bem-estar.

“Já podemos notar que essa relação entre o consumidor e a produção responsável está cada vez mais latente e o mercado já está, prontamente, buscando alternativas para atender essa demanda”, avalia a médica-veterinária, doutora em Produtividade e Qualidade Animal e diretora de certificações da Integral, empresa que atua nesse ramo para produtos de origem animal, Helena Karsburg. De acordo com a profissional, a utilização de certificações de qualidade podem ser um diferencial para a valorização da produção, incluindo nessa fatia também pequenos e médios empreendimentos rurais. Análises da Embrapa também caminham nesse sentido, reforçando que os selos podem incrementar a percepção de valor por parte dos consumidores e ser parte de estratégia para valorização de produtos alimentares para exportação.

Obtenção do selo passa por certificação

Para entender como funciona o procedimento para obtenção de diferenciais como esse, Karsburg explica que há uma série de certificações disponíveis no mercado, e o empreendedor deve buscar alternativas dependendo do viés direcional da sua empresa. “No caso de bem-estar animal existe um programa, desenhado pela Integral Certificações e pela QCONZ América Latina, de certificação privada de terceira parte, baseado nas regras da Organização Mundial de Saúde”, exemplifica a especialista que detalha: “o trabalho é desenvolvido com o objetivo de assegurar que os produtos de origem animal que estampam o selo em suas embalagens sejam provenientes de fazendas, granjas e criatórios nos quais não é permitido qualquer tipo de maus tratos e/ou sofrimento desnecessário aos animais; exista um programa robusto de prevenção de doenças, elaborado e acompanhado por médico-veterinário, visando o uso racional de medicamentos, especialmente antibióticos; haja uma nutrição especialmente formulada para cada estágio de vida e, ainda, onde funcionários trabalham em um ambiente psicologicamente saudável”.

Com ideais empáticos aos consumidores – e atendendo essa elevada demanda na atenção pelas certificações – os selos se fazem cada vez mais presentes nas gôndolas, o que estreita a relação de confiança entre produto, local de compra e público. Ainda segundo análises da Embrapa, “a certificação da qualidade por meio de selos também tem potencial para elevar a confiança dos consumidores nos produtos disponíveis”. Outro estudo desenvolvido nesse sentido, denominado “Fatores determinantes do consumo de alimentos certificados no Brasil”, aponta que os principais fatores de motivação à compra de produtos certificados são a segurança alimentar e a credibilidade dos produtos, adjetivos que podem também criar correlação ao local de compra e consumo.

“Todo selo é portador de uma concepção e indicação de qualidade e quando falamos de bem-estar animal associamos valores pessoais e humanos nesse conceito. Por isso, há uma tendência crescente nesse tipo de identificação de produtos agroalimentares, que passa pelo sabor, qualidade, valor nutricional, preço, e, agora também, aspectos de responsabilidade social”, finaliza Helena Karsburg.

(FONTE: O Presente Rural, 28 de abril de 2022)

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