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Alimentos: food delivery e setor externo têm apoiado produção doméstica de embalagens


A produção de embalagens de papel no Brasil segue resistindo à estagnação do consumo das famílias, sobretudo de bens duráveis, graças a mudanças estruturais nos hábitos de consumo de compradores brasileiros e a fatores externos.

A procura por alimentos para consumo em casa – ou food delivery – ganhou muita força durante a pandemia. Já com a escalada da inflação entre 2021 e 2023 e a reabertura comercial, o setor sofreu e as vendas caíram. Porém, 2024 mostra a reconsolidação deste novo hábito por parte dos consumidores.

A recuperação da massa de renda por parte da população desde 2022 – sobretudo das classes mais baixas – e o controle da inflação entre 2023 e 2024 – que deixou de erodir agressivamente os orçamentos familiares – têm possibilitado que as famílias retomassem o hábito adquirido durante o período de isolamento social.

Segundo dados do IBGE, o rendimento médio mensal do brasileiro cresceu 4.7% entre janeiro e maio de 2024 quando comparado ao mesmo período em 2023, e subiu 12.2% ante igual período em 2022 em meio à queda na inflação, abrindo espaço para os gastos não-essenciais como o food delivery.

A maioria das redes de franquias de alimentação fora do lar utilizam o canal de vendas pelo e-commerce ou para retirada – take away – para impulsionar suas vendas, que em geral representam quase um terço do seu faturamento, segundo dados da Pesquisa Anual Setorial de Foodservice 2024, veiculada pelo grupo Folha. A praticidade do hábito e a grande variedade de opções disponíveis para consumidores cada vez mais ocupados com trabalho e rotinas presenciais de trabalho têm sido apontadas como os principais fatores para a reconsolidação do hábito em meio a uma maior folga orçamentária.

A expedição de chapas, caixas e acessórios de papelão ondulado cresceu 8% no acumulado do ano entre janeiro e maio, segundo dados da Associação Brasileira de Embalagens de Papel (Empapel), superando as nossas expectativas de crescimento divulgadas no início do ano próximas a 5% e as do consenso de mercado que, à época, apontavam para uma recuperação mais tímida próxima a 1-2%.

Já os dados de produção e vendas domésticas de embalagens de papel e papelcartão mostram tendência similar, com a produção crescendo 9.9% e 4.9%, respectivamente, entre janeiro e abril versus igual período em 2023, ao passo que as vendas para o mercado interno apresentaram recuo de 0.4% e 2.5%, respectivamente, segundo dados da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá).

Mas, afinal, se a produção de embalagens de papel segue aquecida apesar da queda nas vendas internas e altos estoques da indústria, o que tem apoiado a produção? A resposta está no mercado externo.

O aumento expressivo na produção e exportação de alimentos e de embalagens de papel, ambos impulsionados pela desvalorização cambial entre janeiro e maio, tem apoiado a produção de papéis e embalagens em geral no país, ao passo que o aumento no consumo de delivery de alimentos em domicílio tem sustentado a produção de papelcartão e sacos desde o início do ano, apesar do fraco desempenho e piora recente nos drivers de consumo de bens duráveis.

E o setor externo tem apoiado o segmento de embalagens por duas vias diferentes: as exportações diretas e as exportações indiretas, através do transporte de bens exportados, sobretudo alimentos. E, para ambos os casos, o cenário de alta na taxa de câmbio, que subiu 4.8% entre janeiro e maio ante dezembro de 2023, age como um acelerador, impulsionando ainda mais a rentabilização dos embarques ao exterior.

As exportações diretas de papel para embalagens do Brasil têm crescido a taxas de dois dígitos, segundo estimativas da Fastmarkets com base em dados de comércio exterior. Os embarques de kraftliner brasileiro somaram quase 176.000t entre janeiro e maio, alta anual de 15.3%, enquanto os envios de testliner quase dobraram no mesmo intervalo. Já os envios de papelcartão e outros papéis similares para embrulho subiram 5.9% para 43.000t no mesmo período.

Já o canal de exportações indiretas também tem apresentado melhora em 2024 e impedido uma queda maior do que a registrada nas vendas internas, o suficiente para seguir apoiando a produção interna de embalagens de papel. Os embarques de alimentos processados ou industrializados subiram 50.8% para mais de 15.6 milhões de toneladas no período, enquanto os envios de proteína animal – sobretudo carne bovina e frango – saltaram 8% para 3.6 milhões de toneladas ante o mesmo intervalo no ano passado.

O mercado de embalagens de papel no Brasil deve finalizar 2024 com números positivos para o consumo e vendas internas de embalagens de papel no país, apesar da estagnação do consumo interno, especialmente a demanda vinda das famílias.

A Fastmarkets projeta em seu relatório Latin America Pulp & Paper 5-Year Forecast que a produção total de papéis para corrugar (containerboard) crescerá para 5.4 milhões de toneladas em 2024, alta de quase 3% frente a 2023. As exportações brasileiras de containerboard crescerão quase 20% no ano para mais de meio milhão de toneladas, enquanto o consumo aparente deve subir cerca de 2% para 5 milhões de toneladas. Para o mercado de papelcartão e outros papéis correlatos, projetamos aumento de 6.4% na produção para 1.1 milhão de toneladas neste ano. Já para a expedição de chapas, caixas e acessórios de papelão ondulado auferida pela Empapel, projetamos crescimento de 6.1% ante 2023, totalizando 4.2 milhões de toneladas.

O setor externo, seja pelo canal de exportação direta (de papéis para embalagens e embalagens finalizadas) ou indireta (de alimentos e outros bens embalados), deve ser o principal motor de crescimento da produção e vendas internas de embalagens de papel em 2024, apoiado pela perspectiva de desvalorização cambial até o final do ano.

A melhora no cenário macroeconômico e drivers de demanda não têm se refletido em uma maior demanda por bens, mas sim por experiências e food delivery – que não deixa de ser uma experiência. A reincorporação em 2024 do hábito pausado entre 2022 e 2023 por conta da erosão da renda pela alta inflação no período têm trazido algum alívio para o setor de embalagens de papel, apoiando parcialmente a produção interna de papel e embalagens de papel.

Entretanto, os riscos econômicos relativos ao endividamento das famílias e vazamentos no orçamento familiar tem crescido consideravelmente, pondo em xeque parte da recuperação das vendas internas e do consumo de bens.

(Fonte: Portal Packaging, 18 de julho de 2024)

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