ABRE

O mercado de embalagens na economia circular


Aqui vai uma ideia ambiciosa. E se em vez de reduzir o impacto que causamos ao meio ambiente, focássemos em praticamente eliminá-lo por completo? É esse modelo de produção, consumo e descarte que a economia circular propõe. Quando os produtos chegam ao fim da sua vida útil não viram lixo, e sim matéria-prima capaz de gerar novos produtos. Ou seja, nada é desperdiçado.

Hoje, temos um sistema linear que funciona basicamente desta forma: extraímos, produzimos, consumimos e descartamos. Quase nada é devolvido ao planeta. Na economia circular a proposta é outra: encontrar soluções para equilibrar nossa relação com a Terra e minimizar os impactos que geramos. Nesse novo modelo, o consumo é repensado desde o início do ciclo dos produtos — considerando as matérias-primas, o desenvolvimento das embalagens e os processos de fabricação, distribuição e armazenamento — até o descarte adequado de seus resíduos. 

Como o próprio nome diz, nessa economia os materiais são pensados para circular. Sabe aquele celular que você jogou fora para comprar um mais avançado ou aquela televisão que quebrou? Eles podem ser desmontados, reciclados e transformados. Assim, suas peças são reaproveitadas e continuam úteis na cadeia produtiva.

Mas, para que isso se torne realidade em nível mundial, toda uma lógica política, econômica e comportamental precisa mudar. Se há algum tempo isso parecia inatingível, agora muitas empresas e associações estão empenhadas em buscar maneiras de reverter os impactos da economia linear — a ABRE, por exemplo, lançou recentemente a plataforma Caminhos da Sustentabilidade, que dá suporte à aceleração de soluções sustentáveis e quer alcançar parceiros de diferentes áreas que estejam realmente interessados em um modelo circular.

Nesse contexto, consumidores, com cada vez mais poder de escolha, tendem a valorizar as marcas que possuem justamente esse tipo de atitude e promovem cenários mais ambientalmente corretos.

Por um mundo mais sustentável

Um exemplo de iniciativa alinhada com essa nova mentalidade é a parceria entre a Heineken e a Natura, patrocinadoras oficiais do Rock in Rio 2019. As duas se uniram para transformar mais de 2,5 milhões de copos plásticos usados no evento em tampas das embalagens da linha masculina Natura Humor. O objetivo é colaborar com a circularidade do processo — nesse caso, gerando 10 toneladas de resina para a fabricação de mais de 670 mil tampas. 

A sustentabilidade dessa ação começa com a participação efetiva do público, que é convidado a se tornar um agente transformador da sociedade, e vai além dos “muros” do Rock in Rio. Por um lado, integra as cooperativas locais, que já trabalham na separação dos resíduos plásticos do festival, e, de outro, faz parceria com a Braskem, uma empresa que vai dar origem à resina a partir dos copos descartáveis. E ainda como incentivo à reciclagem, as embalagens recolhidas são doadas para cooperativas em diversas cidades, transformadas em matéria-prima e inseridas em outros ciclos produtivos. 

Reciclando ideias para um descarte mais consciente

A reciclagem das embalagens de Cup Noodles descartadas pelos consumidores é a ação mais recente adotada pela Nissin Foods do Brasil entre as suas práticas de sustentabilidade ambiental. 

A marca, que já reciclava as aparas descartadas na produção dos copos do produto, passou a disponibilizar pontos de coleta em São Paulo para que seus clientes depositem as embalagens usadas. Elas são encaminhadas para uma cooperativa, onde acontece a triagem do material. Em seguida, os resíduos vão para uma indústria de papelão no Paraná, que separa o plástico da celulose e a reutiliza em seu processo produtivo. 

Outra medida da Nissin para expandir suas ações foi a criação de um Comitê de Sustentabilidade, que é composto por funcionários de diferentes áreas da empresa. Em Pernambuco, em 2019, uma parceria com a ORG Serta — que realiza o desenvolvimento de comunidades rurais para a promoção do meio ambiente — já reciclou aproximadamente 800 kg de paletes para a produção de móveis de madeira. Além disso, aproveitou cerca de 5.000 kg de composto orgânico, como adubo.  

Economia circular: um novo conceito

A empresa TerraCycle foi além da reciclagem de resíduos e propôs um modelo de serviço customizado de produção, entrega, coleta e reutilização de embalagens, que agrega conveniência e compromisso ambiental. O funcionamento é bem simples: quando um produto chega ao fim na casa do consumidor, a empresa recolhe a embalagem. Depois, uma tecnologia de limpeza é usada para higienizá-la e deixá-la pronta para reutilização. Com esse sistema, em parceria com as marcas que fabricam os produtos, a TerraCycle também oferece aos clientes a opção de reabastecer automaticamente seus itens favoritos, poupando o trabalho de adicioná-los à lista de compras. 

Para aderir à iniciativa, o consumidor pode fazer a compra pela plataforma on-line Loop ou pelo site das marcas parceiras. O produto é entregue em uma sacola e poderá ser devolvido nela mesmo, dispensando a necessidade de outras embalagens, como caixas de papelão e plástico-bolha. Ou seja, além de estabelecer novos padrões de conveniência para o comércio eletrônico e o uso de embalagens, esse sistema amplia o conceito de economia circular.

Uma das empresas parceiras da TerraCycle no desenvolvimento da Loop é a Nestlé, que faz uso desse serviço para algumas linhas da sua marca de sorvete Häagen-Dazs. Os sabores baunilha e morango, na versão tradicional e sem lactose, agora vêm em uma embalagem feita de aço resistente a manchas, que é recolhida na porta do consumidor e reaproveitada pela empresa para um novo produto. A meta da Nestlé é que, até 2025, todas as embalagens dessa marca sejam recicláveis ou reutilizáveis, reforçando a sua contribuição para a sustentabilidade.

Dessa forma, as empresas que já entenderam a importância de se alinhar aos valores relevantes atualmente para a sociedade saem na frente, com grandes chances de conquistar a preferência dos clientes. Além disso, elas nos levam a refletir sobre os impactos que os hábitos da nossa sociedade causam ao meio ambiente, ressaltando a importância da prática do consumo consciente e da economia circular como um desafio coletivo. 

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