Sustentabilidade – Desemprego – Guerra Civil
03/02/2020
Recentemente, fui convidado a participar de uma “Mesa de Especialistas”, onde seria discutido o tema da Sustentabilidade. Pessoas de alto nível compunham a mesa. (o piorzinho entre elas, era eu…) Na primeira rodada, os participantes trocaram perguntas entre si e foi-me encaminhada a seguinte pergunta, que tive o cuidado de anotar para não correr o risco de errar ao respondê-la:
“E se acabassem todas as embalagens do mundo. Seríamos mais sustentáveis?”.
Minha primeira reação ao choque que esta pergunta me provocou foi dizer: “Este é o sonho dos ambientalistas!”, ao que o coordenador da mesa retrucou com entusiasmo: “É o meu sonho também!”.
Então, expliquei que a embalagem é o item industrial mais produzido no mundo e responde pela aplicação, em média, da metade de todos os plásticos produzidos. Nos demais materiais a embalagem responde por cerca de 50% do papel, 20 a 25% do aço e do vidro e ainda uma parcela significativa, do alumínio.
Seu desaparecimento teria um impacto brutal nas cadeias produtivas, geraria uma enorme massa de desempregados que, privados de seu sustento, entrariam em desespero e se revoltariam.
Tal situação, seria o palco perfeito para motins, saques, arrastões e depredações. E mais, a necessidade de sobrevivência fomentaria rebeliões que levariam à guerra civil entre empregados e desempregados, os que tem e os que não tem o que comer…
Então, completei meu raciocínio, em meio aos olhares espantados dos participantes da mesa. Se acabarem todas as embalagens do mundo, não conseguiremos mais vacinar as crianças, tomar medicamentos, combater as epidemias e as pragas que destroem as lavouras e os alimentos.
Não teremos como vacinar os animais contra as doenças que dizimam os rebanhos e os aviários, nem conseguiremos combater as epidemias que afetam a humanidade…
Sem embalagem, também haveria perdas e desperdícios de alimentos que hoje, segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o índice de perdas e desperdício está em 30% da produção mundial de alimentos. Isso é alarmante, se pensarmos que a população mundial não deixou de crescer, a consequência natural para essa equação é a fome e acontecimentos pra lá de catastróficos…
Para concluir meu raciocínio, comparei a embalagem à eletricidade afirmando que nossa sociedade não funciona mais sem ela, os produtos não conseguiriam sair das fábricas e as empresas por essa razão parariam de emitir notas fiscais sobre a venda de seus produtos.
Portanto, a sociedade que levamos 12 mil anos para construir, deixaria de existir na forma que a conhecemos e daria lugar a uma outra sociedade, que nem consigo imaginar como seria.
É impressionante como pessoas educadas e reconhecidas em suas profissões, com mestrado e doutorado são capazes de fazer uma pergunta como essa e ainda afirmar que é “seu sonho” sem ter a menor noção das consequências do que estão propondo.
Hoje, organizações, empresas e até mesmo alguns países falam em “banir o plástico” como quem diz que vai tomar um picolé ali na esquina…
A questão ambiental, da forma como está sendo colocada, permitiu a muitos expressarem opiniões e pensamentos infundados e abriu espaço para que mesmo jovens adolescentes que nem concluíram seus estudos, se sintam qualificados a ensinarem aos líderes mundiais como eles devem conduzir suas empresas e seus países.
Nós esquecemos que o estágio de desenvolvimento e o padrão de vida que desfrutamos atualmente, é uma conquista de gerações que, por séculos e milênios, se dedicaram ao progresso em todos os campos do conhecimento. Mas também é preciso lembrar que, o “sistema” ou “status quo” sempre foi questionado, porque questionar é uma característica natural do homo sapiens.
Jesus Cristo se rebelou contra o sistema vigente e propôs uma nova forma de vivermos em comunidade. Se levarmos em consideração a revolução francesa, a queda das monarquias, a independência de tantos países que não aceitaram mais ser colônias, a reforma protestante, e tantos revolucionários que mudaram o ambiente onde viviam, podemos dizer que todos são herdeiros de uma longa tradição de questionamentos, baseados no pressuposto fundamental que o sistema está errado e que “um outro sistema é possível!”.
Com base nesta premissa, Karl Marx propôs um sistema que teve grande sucesso, pois até a queda do Muro de Berlim em 1989, 2 em cada 3 habitantes da terra viviam em países comunistas. Portanto, faz tempo que a humanidade vem tentando novos modelos e o questionamento do sistema vigente é importante e necessário, pois aponta as deficiências e obriga a corrigi-las para que a sociedade se aperfeiçoe e evolua.
É isso que está acontecendo agora, existe uma grande contestação mundial que conseguiu reunir pessoas com visões e atitudes diferentes e uni-las numa mesma causa com o objetivo de fazer o sistema olhar para a questão ambiental como prioridade. Essa profusão de ambientalistas, esquerdistas, novos hippies, vegetarianos, veganos, pacifistas, maconheiros e pessoas radicais de todas as correntes anti-estabilishment, somadas a uma miríade de ONGs, Coletivos e Associações, todos acreditam que um outro mundo é possível e formam uma corrente poderosa, com voz forte que alcançou grande repercussão na cultura, nas universidades, na imprensa e nas redes sociais.
No entanto, existe uma maioria silenciosa que também simpatiza com a causa, pois, ninguém que conheço é a favor do desmatamento, do aquecimento global, do buraco na camada de ozônio, do bug do milênio, da gripe aviária, da aids, da febre suína ou do coronavírus, todos têm consciência dos problemas que nos ameaçam e são a favor da preservação da espécie humana e do meio ambiente.
Mas nem todos se sentem representados pelo ambientalismo militante, porque ele despreza o ser humano e suas necessidades. Para estes ambientalistas o ser humano não faz parte integrante da natureza sendo solenemente ignorado em suas proposições. Não pensam que, como todos os demais seres vivos, os homens e as mulheres precisam sobreviver, sustentar suas famílias e criar seus filhotes.
Entre a maioria silenciosa, existem pessoas como eu, que apesar de serem favoráveis à preservação do meio ambiente, sabem que um outro mundo não é possível e que, portanto, precisamos melhorar o que temos. Estas pessoas sabem também que a embalagem tem uma importante função social e que não é acabando com todas as embalagens que vamos melhorar este mundo em que vivemos hoje, muito pelo contrário!.
Autor – Fábio Mestriner (Fonte: Site Mestriner, janeiro de 2020)
Melissa
03/02/2020